Reflexões acerca da atividade promovida pelo Comitê

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Reflexões acerca da atividade promovida pelo Comitê

SPRGS
Publicado por SPRGS em Fala Comitê · 26 Agosto 2021

Fala Comitê
Reflexões acerca da atividade promovida pelo Comitê de Psicanálise com Crianças:
Travessias do cuidado: O que contam as crianças diante o impacto da pandemia?
O Comitê de Psicanálise com Crianças vem estudando desde segundo semestre de 2020 a acerca das psicopatologias da infância, sobre a constituição psíquica e a importância dos primeiros encontros pais-bebê, bem como as falhas destes encontros. O Comitê se constitui um espaço potente de estudo e aprofundamento teórico, mas principalmente de pensar as costuras possíveis do nosso ofício enlaçando com a clínica e a cultura. A partir das leituras compartilhadas no grupo debateu-se a respeito das vicissitudes dos encontros primordiais entre o adulto e o infans, considerando o contexto atual e os possíveis efeitos da pandemia nessas relações. Desse modo surgiu o desejo de criar um espaço de diálogo e escuta junto aos cuidadores de uma escola de educação infantil a fim de refletir a teoria estudada nos encontros do Comitê associando com a prática, promovendo assim uma atividade em intersecção da Sociedade de Psicologia com a comunidade.  

O nosso contato inicial com a escola E.M.E.I. Paraíso da Criança do município de Osório/RS se deu através de uma das participantes do Comitê. Então, no dia 24 de maio de 2021 realizamos a atividade de forma on-line intitulada Travessias do cuidado: O que contam as crianças diante o impacto da pandemia? com os educadores dessa escola. A partir de uma leitura psicanalítica, propomos um momento de acolhimento a respeito das repercussões da pandemia na subjetividade das crianças e nas relações entre professores e alunos, com objetivo de ampliar as possibilidades de cuidado, tecendo saídas possíveis de elaboração, criação e ressignificação diante dos excessos e incertezas do cenário atual.

No encontro com a escola alguns pontos foram trabalhados, como: ansiedade e medo relacionados ao contágio do vírus; dificuldades de estabelecer contato físico com as crianças devido a possibilidade de contaminação; necessidade de adaptações no contexto escolar e ausência de uma nomeação dos lutos vivenciados de forma coletiva entre a equipe escolar e as crianças. Dessa forma, criou-se um espaço de fala e escuta sobre as angústias, os temores, as tristezas, e constatou-se a importância do olhar atento e subjetivante no trabalho com crianças e da elaboração de novas formas de interação, pensando cada situação na sua particularidade.

Retomando nosso título de trabalho Travessias do cuidado: O que contam as crianças diante o impacto da pandemia?, através dos relatos da equipe escolar, evidenciou-se sinais de sofrimento psíquico diante da distância física e afetiva por parte tanto dos educadores quanto das crianças. Em um destes relatos, narrou-se uma cena de demanda de afeto por parte de um dos alunos em que o mesmo solicita um abraço da professora, a qual relatou um impasse vivido entre acolher ou não o pedido, considerando o risco de contágio viral e ao mesmo tempo levando em conta as necessidades emocionais daquela criança naquele momento. Portanto, a importância da equipe reconhecer e traduzir quaisquer manifestações de desconforto e de estranhamento das crianças, uma vez que as mesmas comunicam seu sofrimento de diversas formas.

Além disso as mudanças vividas no ambiente escolar também geraram estranhamentos e inquietações tanto nos alunos como nos professores. Em muitos relatos evidencia-se sentimento de perda e luto. Os educadores nos descreveram a tristeza em ver a escola “despida” frente a ausência de cartazes e desenhos nas paredes, que são tão característicos da escola infantil e que remetem ao acolhimento e o colorido da infância. E também nos relataram a dor das crianças ao não encontrarem os mesmos colegas da turma, alterando a maneira do brincar pela falta dos pares e dos protocolos do distanciamento.

Outro ponto importante abordado no encontro foram os recursos utilizados pelas crianças através do brincar e do lúdico, para lidar com as angustias do atual momento. Um exemplo dado por uma professora, foi um episódio em que uma criança nomeia como “like” (termo comum usado nas redes sociais) o sinal de positivo fixado no chão para indicar o local correto para sentar conforme as medidas de distanciamento, produzindo no grupo de colegas e nas professoras uma sensação de leveza e ludicidade diante da situação vivida.

A instabilidade do momento pandêmico que atravessamos requer sensibilidade e nos convoca a facilitar meios que propiciem reflexões, acolhimentos e diálogos da ordem do humano. A atividade realizada pelo comitê de Psicanálise com Crianças junto a escola E.M.E.I. Paraíso da Criança, possibilitou um momento de troca e elaboração junto a comunidade, evidenciando a importância de encontros como esse realizado, no sentido de enriquecer a nossa prática e estudos enquanto profissionais e estudantes de psicologia.
       Thais Chies (coordenadora do Comitê)
Luiza Gaudie-Ley Brunelli
Vitória Justin dos Santos
Isabela Primo Onuzzak (estagiária)
Caroline Lucas Lidermann (estagiária)
Comitê de Psicanálise com Crianças
Encontros segundas-feiras, 14h30 às 16h



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