Pandemia, isolamento social e consumo de drogas

No Relatório Mundial sobre Drogas 2021 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (sigla em inglês, UNODC), estima que cerca de 275 milhões de pessoas usaram drogas no mundo no último ano, enquanto 36,3 milhões de pessoas, ou 13% do número total de pessoas que usam drogas, sofrem de transtornos correlatos.

O Relatório aponta que, durante os últimos 24 anos, a potência da cannabis aumentou em até quatro vezes em algumas partes do mundo. Neste sentido, entre 2010 e 2019, o número de pessoas que usam drogas aumentou 22%, em parte devido ao crescimento da população mundial. Com base apenas nas mudanças demográficas, as projeções atuais sugerem um aumento de 11% no número de pessoas que usam drogas globalmente até 2030.

Pessoas usuárias de drogas são mais vulneráveis clinicamente e podem apresentar consequências maiores ao contraírem coronavírus devido às condições médicas subjacentes. Além disso, o isolamento social e a quarentena dificultaram para esse grupo o acesso aos recursos de saúde necessários para o tratamento em questão, tal como medicamentos, centros de acolhimento e grupos de apoio. Apesar de avanços nos atendimentos ‘online’, modalidade de atendimento que decorre da pandemia com maior força, parte da população usuárias de drogas não tem acesso a essa categoria de serviço.

Participar, mesmo que virtualmente, caso haja essa possibilidade, de centros de tratamento, programas de recuperação, psicoterapia e/ou grupos de apoio ainda é um desafio para um grupo considerável de pessoas que não tem acesso à tecnologia de ponta. No que tange os avanços tecnológicos que a pandemia acelerou, parece que vieram para ficar, facilitando o acesso ao tratamento e desmistificando dúvidas em relação a sua eficácia. Embora o impacto da COVID-19 não seja totalmente conhecido, análises sugerem que a pandemia gerou um agravamento do consumo, cultivo e venda de drogas. Especialistas em Transtorno por Uso de Substâncias sabem o quão desafiador é engajar ao tratamento os usuários de drogas. A pandemia tem exigido ainda mais a capacidade de flexibilidade e doação ao próximo por parte dos profissionais além de conhecimento técnico de ponta. As novas barreiras que surgem, parecem, muitas vezes, ser inesgotáveis. Os locais que oferecem tratamento adequado ficaram ainda mais escassos durante o período de isolamento social.

Após a flexibilização de medidas mais rígidas de isolamento social, ainda o desafio permanece frente a questão abordada. Portanto, a capacitação continuada por parte dos profissionais, sobretudo Psicólogos se torna imperativo sobretudo, fortalecendo os laços acadêmicos e profissionais em lugares como conselhos, associações, comunidade científica e locais de trabalho de atuação.