Autocompaixão para lidarmos com a nossa autocrítica

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Autocompaixão para lidarmos com a nossa autocrítica

SPRGS
Publicado por SPRGS em Fala Comitê · 30 Novembro 2022

Fala Comitê
Autocompaixão para lidarmos com a nossa autocrítica
Se sentir emocionalmente estável em tempos onde por todos os lados nos deparamos com comparações, é um tanto desafiador. As redes sociais mostram vidas perfeitas, corpos perfeitos e muita felicidade. E para que possamos nos sentir especiais acabamos buscando por resultados muito elevados e conquistas grandiosas. Contudo, que preço estamos pagando nessa corrida?! Diante de tantas necessidades a serem supridas, a dura autocrítica pode ser um padrão a se estabelecer em nossas vidas e isso pode acarretar muitos prejuízos ao longo do tempo. A autocrítica faz com que sejamos julgadores e rígidos diante dos desafios que a vida nos proporciona e, contraditoriamente, pode fazer com que nos afastemos daquilo que é realmente importante para nós mesmos.

Geralmente, quando as coisas não estão dando certo, nossa primeira reação é sermos autocríticos, acionando nosso sistema de ameaça-defesa. Nos tempos em que vivíamos nas savanas, nosso sistema de ameaça–defesa era extremamente útil, à qualquer momento teríamos que estar preparados para lutar ou fugir de uma ameaça real ou percebida, ativamos nossa amígdala (estrutura no cérebro responsável por detectar o medo), para liberação de cortisol e adrenalina. Esse sistema protege muito bem nosso corpo de ameaças físicas, entretanto, hoje, nossas ameaças já não são mais as mesmas. A maioria das ameaças que enfrentamos atualmente estão relacionadas a nós mesmos, ao nosso autoconceito, com a ideia de inadequação. O fato de nos sentirmos ameaçados constantemente provoca um estresse crônico, muito prejudicial a nossa saúde.

Muitas vezes pensamos que se nos esforçamos o suficiente, iremos garantir que tudo saia perfeito. Criamos a ideia que podemos controlar os desfechos pelo nosso empenho. Com isso, podemos nos autocriticar em demasia para buscarmos a sensação de controle. Infelizmente, por mais que nos esforçamos, é impossível não falhar, não sofrer e ficar vulnerável. As exigências e a autocrítica excessiva não vão garantir o controle de todas as adversidades que a vida apresenta. Vamos precisar abraçar a incerteza, pois muitas coisas não estão sob o nosso controle. Para desativarmos o sistema de ameaça-defesa, podemos buscar sermos autocompassivos para que, com a ativação do nosso sistema de cuidado, segurança e proteção, com a liberação do neurotransmissor ocitocina, possamos sair do criticismo exagerado.

Aprender a nos acolher em nossas vidas com compaixão e gentileza, apesar das imperfeições internas e externas, proporciona-nos uma postura consciente e saudável para lidarmos com os desafios e com as experiências de vida. A autocompaixão é uma prática na qual aprendemos ser um bom amigo para nós mesmos quando precisamos. Um aliado ao invés de um inimigo interno. Na presença de consciência amorosa, podemos passar melhor pelo sofrimento, sem tanto julgamento.

Muitas vezes a autocompaixão pode ser confundida com autopiedade e permissividade. Podemos pensar, que ao ter compaixão conosco, nossos padrões vão cair, nossa produtividade vai diminuir, nos tornaremos pessoas que se conformam com tudo e ficaremos estagnados. Compaixão consigo mesmo é um profundo compromisso de bem-estar e uma postura de cuidado voltado a si. E isso pode justamente incluir uma série de atitudes, limites e autorresponsabilidades.

Os três componentes da autocompaixão são: autobondade, humanidade compartilhada e mindfulness. A autobondade consiste em uma postura de suporte, conforto e cuidado consigo, principalmente em momentos de falhas e fracasso. A humanidade compartilhada nos faz reconhecer a natureza humana como falha, vivenciadora de sofrimento, a qual gera um senso de conexão e compartilhamento com as outras pessoas. E o mindfulness, permite estarmos consciente momento a momento, atentos aos pensamentos, emoções e sensações, sem esquiva. Ao trabalharmos os três aspectos citados, podemos iniciar e aprofundar o desenvolvimento da autocompaixão.

Quanto mais estivermos no presente, mais oportunidade temos de fazer melhores escolhas para nós mesmos. Com a prática de mindfulness, torna-se possível estar mais consciente do momento, observando o que sentimos, sem julgar. Dessa forma, facilita-se que consigamos nos questionar de forma autocompassiva “o que precisamos agora?”. Em uma postura de acolhimento que busca suprir nossas necessidades.

Não importa o quão boa for a vida, todos nós vamos experienciar decepção, frustração, rejeição e falha. Passar pela dor é inevitável, contudo, podemos escolher como queremos enfrentar as situações mais desafiadoras. Com a autocompaixão, reconhecemos a nossa natureza humana falha e suscetível ao sofrimento. Quando desenvolvemos o hábito de autobondade, o sofrimento se torna uma oportunidade de experimentar o amor e a ternura interna. Adotamos uma postura de real compromisso e cuidado conosco, para conseguirmos vivenciar as emoções, podendo optar responder a elas ao invés de apenas reagir.

A forma que nos relacionamos conosco pode nos deixar motivados a seguir buscando alcançar nossos objetivos e ir ao encontro do que é importante para nós. A autocompaixão tem se mostrado associada a diferentes indicadores de saúde mental e é proposta como um fator protetivo frente ao desenvolvimento de psicopatologias. Para começarmos a ser mais autocompassivos, que tal nos tratarmos da mesma forma que trataríamos uma pessoa querida, em um momento difícil?

Referências Bibliográficas
1. Silva, F. F. (2021). Autocompaixão: Uma ferramenta de promoção de bem-estar e de diminuição de autocrítica. Revista de extensão e iniciação científica da UNISOCIESC, 8(2). Recuperado de http://reis.unisociesc.com.br/index.php/reis/article/view/270.
2. Neff, K. Germer, C. (2018).  Manual de mindfulness e autocompaixão. Porto Alegre: Artmed.
3. Neff, K. (2017). Autocompaixão: Pare de se torturar e deixe a insegurança para trás. Teresópolis: Lúcida Letra.

Comitê Terapia Cognitivo-Comportamental
Coordenação
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Co-coordenação
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