Efeitos do traumático no sujeito

Mediante aos acontecimentos atuais que estão acorrendo no mundo, é inegável perceber os efeitos no sujeito manifestados pela experiência da Pandemia, algo que a priori só era possível de se imaginar através da literatura. Esta vivência tem contornos do traumático, daquilo que está sendo, mas ela ainda revela o que já estava ali, encoberto por uma rotina cronometrada, programada para não perder tempo. Mas, o tempo foi usurpado, não o tempo marcado pelos números que desenham um relógio, mas o tempo de poder ir e vir, de fazer, de não fazer, de não perder nenhum minuto, de produzir sempre. A Pandemia neste cenário, vêm e impõe o isolamento como meio de interditar aquilo a que ela se propõe disseminar: o adoecimento e a morte. Nos sujeitos, ela denuncia tanto Éros quanto Thánatos, e promove neles uma modulação de seus efeitos a partir de seu mundo interno e de sua imensurável realidade. O duelo entre a vida e a morte, produz o conflito de existir meio a um ambiente que ameaça sua própria existência, e aponta ao que é da ordem do privativo, do individual, ainda que inserido no coletivo. O sujeito, imerso neste ambiente tende por hora fugir da realidade, negar o quanto de trágico que ela representa, como meio de dar conta das angústias, medos e inquietações. Uma fuga da realidade como medida de enfrentamento a um momento de crise, de fragilidade, em consequência de um excesso de percepção e relação com a mesma. Eis aí um dos caminhos possíveis do sintoma, como efeitos das vivências e re-vivências que o contexto atual excita nos sujeitos em um contexto social imerso em restrições, confinamento e morte.